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Setembro Roxo: Câncer de Pâncreas: Desafios no diagnóstico e tratamento

O câncer de pâncreas é uma neoplasia maligna responsável por alta taxa de mortalidade em todo o mundo, pois é muito agressivo, de diagnóstico tardio e resistente aos tratamentos convencionais, como quimioterapia e radioterapia. O pâncreas desempenha funções endócrinas (produção de insulina) e exócrinas (produção de enzimas digestivas). O tipo mais comum de câncer pancreático é o adenocarcinoma ductal, que se origina nas células que revestem os ductos pancreáticos.

O câncer de pâncreas representa cerca de 3% de todos os casos de câncer diagnosticados, mas é o sétimo mais comum em termos de mortalidade. Sua incidência varia significativamente de acordo com a região geográfica, sendo mais comum em países desenvolvidos. Nos Estados Unidos, estima-se que mais de 60.000 novos casos sejam diagnosticados a cada ano, com cerca de 50.000 mortes. No Brasil, o Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima que o câncer de pâncreas seja a décima segunda causa mais comum de câncer, com cerca de 10 mil casos novos anualmente. A prevalência do câncer de pâncreas é baixa, principalmente devido ao seu alto índice de mortalidade e ao rápido curso da doença. A incidência está em crescimento, tanto devido ao aumento da expectativa de vida da população quanto à ampliação da exposição aos fatores de risco, como o tabagismo e a obesidade. A incidência global varia de 5 a 10 casos por 100.000 habitantes, com números mais elevados em países da Europa Ocidental e América do Norte. Indivíduos com ascendência africana têm maior risco de desenvolver a doença em comparação a outras etnias.

Os fatores de risco para o câncer de pâncreas incluem o tabagismo, que é responsável por cerca de 25% dos casos, a obesidade, o diabetes mellitus tipo 2, a pancreatite crônica e o histórico familiar da doença. Indivíduos com mutações hereditárias, como BRCA1 e BRCA2, apresentam risco mais elevado. O consumo excessivo de álcool e a dieta rica em gorduras e carnes processadas são outros fatores associados. Homens e mulheres são igualmente afetados, com leve predomínio masculino, especialmente em indivíduos acima de 60 anos. Devido ao caráter insidioso do tumor, a maioria dos pacientes já se encontra em estágios avançados no momento do diagnóstico.

A detecção precoce continua sendo o principal fator para aumentar a sobrevida, o que tem sido um desafio, pois os sintomas iniciais são frequentemente inespecíficos. As manifestações clínicas do câncer de pâncreas dependem de sua localização. Os tumores na cabeça frequentemente causam icterícia devido à obstrução do ducto biliar, um dos primeiros sintomas, em geral tardio, mas que leva a buscar atendimento médico. Tumores no corpo e na cauda, por outro lado, frequentemente são assintomáticos até que a doença esteja avançada. Quando os sintomas surgem, eles podem incluir dor abdominal ou nas costas, perda de peso inexplicável, anorexia, náuseas, vômitos, ascite por carcinomatose peritoneal, ou manifestações decorrentes de metástases hepáticas ou pulmonares. O diabetes de início recente, particularmente em pessoas idosas, pode ser uma manifestação precoce do câncer de pâncreas.

Menos de 20% dos pacientes são elegíveis para ressecção cirúrgica no momento do diagnóstico, que é a única forma potencialmente curativa. Mesmo em casos operáveis, a recorrência é comum e o prognóstico é sombrio, com uma sobrevida de cinco anos inferior a 10%. A agressividade do tumor e sua capacidade de metastatizar precocemente para órgãos como o fígado, pulmões e peritônio agravam o quadro. A resposta à quimioterapia e radioterapia é limitada, embora novas abordagens com terapias-alvo e imunoterapias estejam sendo investigadas para melhorar o prognóstico dos pacientes.

A prevenção do câncer de pâncreas é um desafio. A cessação do tabagismo é fundamental, já que os fumantes apresentam risco significativamente maior de desenvolver a neoplasia. O controle adequado do diabetes e da pancreatite crônica também são medidas preventivas. Indivíduos com histórico familiar da doença devem fazer rastreamento genético, especialmente em famílias com mutações associadas a síndromes hereditárias de câncer. A adoção de uma dieta saudável, rica em frutas, vegetais e grãos integrais, pobre em gorduras e carnes processadas, sem consumo de álcool, além da prática regular de exercícios físicos, pode reduzir o risco de câncer de pâncreas, especialmente em indivíduos com sobrepeso ou obesidade.

Em resumo, o câncer de pâncreas é uma doença altamente letal, com fatores de risco bem estabelecidos, mas de difícil diagnóstico precoce. A prevenção primária, focada em modificar hábitos de vida, é a estratégia mais eficaz para reduzir sua incidência. O avanço das pesquisas sobre detecção precoce e terapias inovadoras traz esperança para melhorar o prognóstico desse tumor devastador.

Artigo escrito pelo Acadêmico e gastroenterologista Cláudio Augusto Marroni.