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Tabagismo: O problema persiste

O tabagismo é um tema muito importante para todos e repercute em diversas dimensões. Até a década de oitenta pacientes fumantes costumavam recorrer à assistência médica em fases tardias das suas doenças crônicas. A partir dos anos noventa o foco assistencial foi também direcionado ao tabagismo como uma doença em si mesmo, e não apenas para as consequências.

Com as informações científicas sobre os danos do tabagismo conhecidas há mais de meio século, inicialmente escondidas pela indústria do tabaco (IT), já deveríamos ter nos livrado deste fator de risco que é a maior causa de morte evitável. Mas isto não ocorreu, principalmente por interesses financeiros e políticos. Destaque-se a mídia paga pela IT para promoção do consumo, a anuência do setor político financiado nas campanhas eleitorais, e a dependência dos fumantes.

Cálculos estatísticos mostraram que as 5 milhões de mortes anuais por doenças tabaco relacionadas da década de oitenta, em 2030 dobrariam chegando a 10 milhões. Isto se nada fosse feito. Surgiu então a iniciativa de criar-se um tratado internacional – a Convenção Quadro para Controle do Tabaco (CQCT), instituída pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Para informar a população e estimular sua participação na luta antitabágica, a OMS criou a partir de 1988 o Dia Mundial Sem Tabaco, em 31 de Maio. Nesta data simbólica recomenda-se promover mobilizações e divulgar informações sobre os malefícios do tabagismo. Divulga-se os prejuízos da economia pois se gasta mais do que se arrecada. A desumana escravidão dos fumicultores e suas famílias, obrigados à prática da monocultura. Chama-se atenção sobre os danos ao solo e ao planeta. Estimula-se o parar de fumar.

O Brasil é um dos países mais engajados no controle do tabagismo. Em 1986 o Instituto Nacional do Câncer (INCA) implantou o Programa Nacional de Combate ao Fumo, que foi reforçado pela Convenção Quadro para Controle do Tabaco (CQCT), a lei antifumo internacional estabelecida em 2003 pela OMS. Com a Lei Federal 12.546/2011 avançou muito a proibição de fumar em ambientes fechados e extinguiu-se o fumódromo. O aumento de preços e outros itens de controle contribuíram para reduzir a porcentagem de adultos fumantes, de 35% da década de oitenta para menos de 10% na atualidade. Infelizmente 20 milhões de brasileiros continuam fumando.

O tabagismo ainda é a principal causa de morte evitável, atingindo mundialmente mais de um bilhão de pessoas e causando 7 milhões de mortes anualmente. É responsável por mais de 70% das mortes por doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), incluindo-se doenças cardíacas, cerebrais, vasculares, câncer e DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica). Também contribui para o aumento da tuberculose, infecções respiratórias, impotência sexual, infertilidade, osteoporose, catarata, entre outras.
O comércio ilegal preocupa no âmbito mundial pois prejudica a saúde e incentiva a corrupção.
Favorece o consumo por jovens e os de baixa renda ao facilitar acesso pelo baixo custo.

Devem ser proibidos os aditivos, açúcares e essências que tornam cigarros aromáticos e percebidos por um paladar suave e atraente, passando uma falsa impressão de serem indenes. A propaganda de produtos do tabaco precisa ser cuidadosamente observada pois a indústria tem muitas estratégias de disfarce. Embalagens devem ser padronizadas.

Os principais fatores que têm contribuído para a redução do tabagismo são: aumento do preço (46%), proibição em ambientes fechados (14%), restrição de publicidade (14%), programas de tratamento (10%), advertências nas embalagens (8%), campanhas (6%).

É muito importante enfrentar as pressões da indústria do tabaco para legalização do consumo da maconha pois, paralelamente, facilita a iniciação ao tabagismo e banaliza as leis antifumo.
Ficar atento à pandemia dos vapes ou cigarros eletrônicos. Estes dispositivos para inalação de vapores contém nicotina, edulcorantes, aromatizantes, produtos tóxicos e cancerígenos. A indústria do tabaco propaga que não causam danos e podem ajudar fumantes a substituir os cigarros, mas as provas científicas confiáveis indicam que os vapes não ajudam a cessar o tabagismo e são danosos para a saúde. O mercado mundial quer manter seus lucros a qualquer custo e insiste em repetir o cenário que ocorreu há oito décadas com o cigarro convencional.

Todos concordarão que aceitar patrocínio da indústria do tabaco para quaisquer eventos é a mais escancarada forma de corrupção para compra e venda de decisões dos setores político e judiciário. Isto é no mínimo antiético e precisa ser coibido duramente.

É fundamental estar informado sobre decisões políticas que atingem a todos. Assim poderemos nos fazer ouvir e manifestar apoio ou inconformidade.

Um programa de tratamento do fumante deve ser individualizado e considerar:
1- Motivação – deve ser incentivada por familiares, amigos, e pelo profissional da saúde
2- Preparação – implica em mudança de comportamento e, se necessário, medicamentos
3- Dia D – uma data simbólica de reforço à decisão de parar de fumar
4- Manutenção – para evitar a recaída, aprender a evitar/controlar gatilhos.

Políticas de controle – as leis antifumo precisam ser fiscalizadas, revisadas e incrementadas continuamente, incluindo-se a responsabilização por danos causados pelos produtos do setor.

Texto escrito pelo médico pneumologista e Acadêmico Luiz Carlos Corrêa.